Como Avaliar uma Startup de Biotecnologia antes de Investir
- Rodrigo Guimarães
- há 4 dias
- 6 min de leitura
Investidores geralmente têm visão de mercado, mas pouca clareza sobre riscos técnicos. Já os Pesquisadores dominam a ciência, mas nem sempre conseguem avaliar escalabilidade e viabilidade comercial. Avaliar uma biotech exige unir esses dois mundos.
Neste artigo você vai entender como avaliar uma startup de biotecnologia sob duas perspectivas, sob o ponto de vista da tecnologia e de investimento, destacando quais aspectos são mais importantes, como identificar riscos ocultos e quais metodologias tornam o processo mais seguro e eficiente.
POR QUE AVALIAR BIOTECHS É DIFERENTE?
Biotecnologia pode ser definida como: uso de organismos ou parte deles para o desenvolvimento de produtos e processos. Sendo assim, ao se utilizar processos biológicos aumentamos de forma significativa as incertezas técnicas, seja nas etapas de desenvolvimento de produtos, ou mesmo no desenho de processos. E para apimentar o desafio, para se tornar uma startup o processo precisa ser reprodutível e escalável.
Quando trabalhamos com organismos vivos, inevitavelmente lidamos com variabilidade. Cada etapa, do cultivo à produção, traz incertezas que não existem em processos puramente industriais. Em biotecnologia, o desafio é transformar algo naturalmente variável em um processo reprodutível e escalável.
Como fazer isso, se até duas uvas de um mesmo cacho uma pode ser doce a outra mais azeda?
As startups de biotecnologia buscam a escalabilidade destes processos, muitas vezes através de modelos de negócio baseados em ciência, P&D, validação experimental e processos complexos. Algumas biotechs podem burlar estes pontos, porém geralmente observamos algumas características, como:
- Maior ciclo de desenvolvimento: Pela necessidade de alcançar um volume mínimo para conseguir comercializar, até se alcançar a escala de um Mínimo Produto Viável (MVP), é comum observarmos um maior ciclo de desenvolvimento quando falamos de bioprocessos.
- Escalonamento complexo: Diretamente ligado ao ciclo de desenvolvimento, temos a complexidade do escalonamento, uma vez que em bioprocessos é comum observar uma proporcionalidade de crescimento da estrutura operacional. Geralmente é preciso revisar a produtividade de processo e reprodutibilidade a cada mudança, seja de volume do sistema, o material construtivo de um tanque maior, das condições de agitação e outras dezenas ou até centenas de fatores que podem influenciar a cinética do processo.
- Maior necessidade de capital: Por exigir mais testes, com maior controle e geralmente uma curva de desenvolvimento do primeiro produto mais longa, em muitos casos é necessário um maior volume de capital para sustentar a fase inicial de desenvolvimento.
- Barreiras regulatórias: Algumas Biotechs atuam em mercados altamente regulamentados como o setor farmacêutico, e caso o seu objetivo seja a comercialização dos produtos, precisa de autorizações de agências regulatórias para entrar no mercado.
UM PONTO IMPORTANTE
Como as Biotech podem atuar em diferentes mercados, com diferentes insumos, dos microrganismos em biorreatores que ficam em ambientes sistematicamente limpos até plantas cultivadas no meio da floresta, estas características vão variar de negócio para negócio.
Diante disso, para avaliar uma startup de biotecnologia geralmente sigo 4 blocos:
1 – Técnico
2 – Financeiro
3 – Mercado
4 - Integrado
1 – Avaliação Técnica
A principal pergunta que devemos responder nesta avaliação é:
A tecnologia funciona e conseguimos escalar o processo sem aumentar/reduzindo os custos?
Funciona?
Em relação a parte técnica o primeiro passo é identificar uma prova de que a tecnologia funciona. Do cenário mais arriscado para o menos arriscado:
i – O time identificou evidências na literatura de que aquilo pode funcionar;
ii – O time já validou parte do processo em bancada mas sem resultados efetivos a princípio
iii - O time já validou em bancada
iv – O time já validou em escala relevante
Estas são algumas possibilidades, mas é importante ter clareza do momento e das evidências apresentadas para a redução do risco. Alguns investidores preferem entrar em oportunidades mais iniciais e outros empreendimentos com menores riscos. O mais importante é avaliar a capacidade técnica do time de resolver problemas e contornar os obstáculos.
Conseguimos escalar o processo sem aumentar/reduzindo os custos?
Geralmente os custos tendem a diminuir com a escala, porém isso nem sempre acontece. Em menores escalas os custos do processo são elevados, seja em relação a insumos pois geralmente os testes são feitos em ambientes mais controlados e com ingredientes mais caros, porém em alguns casos o processo já pode nascer com custos muito baixos.
Se a tecnologia já entrega um processo/produto com baixos custos, conseguimos escalar a produção sem aumentá-los? Conseguimos sair de produção de 1 para 10, 100 ou 1.000 mantendo o custo unitário? É muito comum encontrar projetos com custos subestimados em escalas menores, o que poderá gerar grandes problemas de escalonamento.
Já as tecnologias que nascem com custos elevados, será que conseguimos reduzir estes custos através do ganho de escala ou não? É muito provável que vai haver economia de escala, porém é importante avaliar se estas possuem relevância no custo total ou se os custos que não podemos mudar (que as vezes pode ser de insumos) aumentam proporcionalmente com a produção.
Nestes dois pontos, o funciona e o de escala é importante testar a capacidade de entrega do time de empreendedores/pesquisadores, porque até chegar ao mercado muito coisa tende a dar errado e os especialistas vão precisar resolver.
2. AVALIAÇÃO FINANEIRA
Uma vez desenhada a tecnologia e o processo de aumento de escala, iniciamos a avaliação financeira. Neste momento avaliamos internamente a oportunidade sobre os aspectos de demanda de recursos, quanto vou precisar para desenvolver a tecnologia e/ou para cumprir o plano de escalonamento.
Ao iniciarmos olhando para dentro, a expectativa é reduzir os vieses na viabilidade do projeto, pois a intenção é partir de um cenário realista do que precisamos para entregar o produto ou serviço. A pergunta aqui é:
O que e quanto precisamos para entregar o volume esperado de produtos ou serviços?
É muito comum esta parte já ser feita junto com a previsão de receita, porém para uma avaliação de uma oportunidade de investimento em biotechs prefiro separar as etapas.
Ao pegar as informações que tiramos da análise técnica (O que) e transformamos em um valor de investimento (quanto) necessário para entregarmos a demanda projetada partimos de uma posição mais coerente em relação a necessidade de recursos. Separar CAPEX técnico (equipamentos, instalações, biorreatores) de OPEX (insumos, energia, mão de obra) ajuda a obter projeções financeiras mais realistas.
Além da parte técnica, deve ser incluída também a estrutura administrativa necessária para a entrega do resultado desejado, e só depois da análise financeira que integramos os valores com informações relacionadas ao mercado.
3. ANÁLISE DE MERCADO
A partir das informações técnicas e financeiras, iniciamos uma avaliação de mercado, onde vamos integrar a nossa análise as informações relacionadas a pergunta norteadora:
Existe demanda comprovada e/ou um mercado crescente para a nossa tecnologia?
Neste momento o modelo de negócios tem impacto direto no processo de análise, pois é comum startups de biotecnologia que desenvolvem produtos e serviços serem adquiridas ou incorporadas antes de chegar ao mercado, sem a startup ter emitido ao menos uma nota fiscal, ao mesmo tempo que também são encontrados outros empreendimentos que iniciam as vendas em fluxo de validação e tração.
Para as startups que visam entrar no mercado com produto/serviço é importante partir de uma demanda realista com base no estudo de concorrentes e substitutos, utilizando sempre dados de mercado.
4. ANÁLISE INTEGRADA (SENSIBILIDADE)
Com as informações técnicas da estrutura que precisamos, dos recursos que serão necessários e o potencial de mercado, partimos para uma análise de sensibilidade, cujo objetivo é integrar os 3 pontos anteriores para responder à pergunta:
A oportunidade analisada tem viabilidade técnica e econômico-financeira?
Para esta análise é importante ter clareza das expectativas das partes interessadas em relação ao desenvolvimento do projeto, qual é o principal objetivo, sendo um único objetivo prioritário, e este vai servir como base para a realização dos testes de estudo de sensibilidade.
O objetivo prioritário pode ser baseado em volume de vendas, em receita, em valor a ser investido, preço, entre outros. Porém independente se ele tem uma diretriz, financeira, técnica ou econômica, ele precisa se ser validados nas 3 esferas. O principal desafio desta etapa é ajustar os 3 aspectos de forma que todos permaneçam viáveis.
Exemplo, precisamos reduzir o investimento, quais impactos:
- Na qualidade ou volume de produção (Técnico)
- Nos custos e volume de vendas (Financeiro)
- No preço de venda (Econômico)
As vezes diminuindo o investimento não tem um impacto significativo ou pode inviabilizar a produção. Ou prejudicar a qualidade que compromete o preço.
Enfim, é um ajuste necessário para ter um cenário realista da oportunidade de investimento, e se faz sentido alocar tempo e recursos no projeto.
Sendo assim, a avaliação certa não elimina os riscos — mas evita decisões ruins e aumenta as chances de investir nas biotechs que realmente têm potencial de transformar ciência em negócios sustentáveis.
Entre em contato com a Brasbiotec para avaliar sua próxima startup.




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